Nascera num bairro um tanto quanto pobre numa cidade trouxa aos arredores de Londres. Buscava atenção, uma vez que não encontrara interesse ou cuidado na família bruxa em que nascera. Abandono. Até que surge Lily, pequena e encantadora no alto dos seus sete, oito anos de idade. Explicou a ela sobre as magias que também podia fazer, uma vez que sua família não era bruxa como a dele; era apenas vizinha da sua. Aquela menina parecia gostar dele, e o sonserino gostava dela por isso.
Separados em Hogwarts ao serem postos em Casas praticamente rivais, porém não deixando a amizade morrer, ele ao menos tinha um lar de verdade agora. Aquele castelo parecia um lar, não faltava nada: comida, cama, beleza, jovens, conhecimento, magia, grandeza. Mas sobrava algo. Havia algo que dispensaria: James Potter e seus amigos. Não só pelo bulling que sofrera, é claro. Mas principalmente porque Lily Evans se tornara Lily Potter.
Snape não compreendia, certamente. Potter? Como ela pôde...? No entanto, conhecer a arte das trevas como tantos outros alunos da Sonserina o aproximou de Voldemort e colocou-o para lutar ao lado dele antes mesmo que pudesse se dar conta. Agora havia uma tatuagem a fogo em seu braço: uma cobra saindo de um rosto maldito, provando sua fidelidade. Ao menos na teoria. É claro que sua mente clareou quando ele soube da profecia. Matar o filho de Lily Potter, era o que Voldemort queria e jurara fazer. Matar Lily também, se precisar, ele não ligava. Um a mais, um a menos... tanto fazia. Quem poderia ajudar? Ajudar o único amor da vida de Snape, ajudar a criança que ela amava... não alguém dos muitos que o rodeavam, certamente. Ninguém ali ligaria para a vida daquela mulher, ninguém ali entenderia.
No entanto, não a deixaria morrer.
Voltou à escola, não como aluno, é claro. Aquele castelo agora era território inimigo, mas ele não estava com medo quando entrou pelas portas e procurou o velho barbudo e bondoso, de passado misterioso, com o qual sabia que poderia talvez encontrar algum tipo de esperança, alguém que atendesse seu desejo... Dumbledore ponderou, hesitou, e por fim, acreditou nas lágrimas do homem pálido de nariz curvo que lhe implorava. Snape seria um agente duplo, então, para não levantar suspeitas e comprometer também a própria vida.
Outra prova de coragem e cavalheirismo, talvez pudesse ter dado certo também na Grifinória, afinal.
Lily morreu, sacrificou-se pela vida do filho de James Potter. Snape falhara, e não tinha mais pelo o que lutar. O que deixa muito óbvio que não fora egoísta ao continuar do lado certo para proteger o filho do homem pelo qual alimentava uma profunda antipatia. Sonserino?... A tentativa frustrada do assassinato de Harry Potter derrubou Voldemort, alguns até chegaram a dizer que havia morrido, mas não acho, de qualquer forma, que Snape teria voltado atrás em sua decisão, não voltaria a ser leal à parte errada da história, mesmo se o Lorde tivesse permanecido no poder.
Harry, ele viu dez anos depois, tinha os olhos iguais aos da mãe. Na cor, no formato. Foi a última coisa que ele quis ver em vida.
Se afeiçoar ao menino lhe causava conflitos internos diários, já que era tão parecido com os pais que não deixava Snape se esquecer nenhum segundo da dor que fora para si perder Lily e nem com quem ela decidira ser feliz, com quem morrera.
Ser um agente duplo lhe exigia mais coragem ainda, cravar votos perpétuos para não levantar suspeitas, também. Proteger o filho de um comensal da morte, quando a missão que recebera de seu lorde era justamente matar Dumbledore... missão essa que ele próprio teria de completar, caso o jovem e frágil Draco não fosse frio o suficiente...
Planos e mais planos. A vida de Dumbledore já não seria longa, de qualquer modo. Havia uma saída.
Mortes, perdas, perigos, noites com certeza mal dormidas... qual seria sua recompensa, no fim? Alguém conseguia encontrar alguma? Provavelmente não. E não houve, de fato.
Apenas os olhos de Lily o olhando quando morrera. Não propriamente os dela, mas herdados com tanta perfeição que parecia não haver diferença nenhuma.
Nunca fora feliz.
E mereceu tanto, mas tanto...
Meu personagem preferido, estou contigo e não largo. Eu te amo, Severus Snape, caso alguém nunca tenha-lhe dito isso...